O TERCEIRO PARAÍSO FISCAL EM BANCARROTA

O TERCEIRO PARAÍSO FISCAL EM BANCARROTA

O TERCEIRO PARAÍSO FISCAL EM BANCARROTA
Depois da Islândia e Irlanda, o Chipre. Bruxelas re¬cusa pagar falências devido aos excessos da banca.

 

Chipre sempre foi um caso distante na zona euro.
Geograficamente está mais próximo do Médio Oriente que da Europa - dista apenas uma centena de quilómetros da Síria e da costa turca.
É também o único território dividido na região (ocupado pelos turcos no Norte), tem fortes laços com o Reino Unido - de quem é ex-colónia -e detém um sistema financeiro suspeito de ser um centro de lavagem de dinheiro.

Devido à sua ínfima dimensão (0,2% da economia do euro e 0,003% da população), o Chipre sempre foi um caso lá longe para Bruxelas: nunca entrou no famoso acrónimo PIIGS, as suspeitas de irregularidades da banca eram um pormenor e o resgate a Nicósia era dado como certo há quase um ano sem que isso mudasse alguma coisa na política europeia ou no nervosismo dos mercados.

 

A falência de Chipre seguiu o mesmo perfil do verificado na Irlanda e Islândia.
Todas elas ilhas, todas elas vítimas de um sucesso económico assente num modelo de paraíso fiscal que atraiu milhões de euros e insuflou o sistema bancário aos limites em economias sem indústria ou outras actividades relevantes.

A dimensão do sistema bancário cipriota é de 126 mil milhões de euros, cerca de sete vezes a economia.
Na Irlanda o peso da banca era oito vezes o PIB do país, na Islândia, idem.
Tal como em Dublin ou Reiquiavique, foi o regime fiscal atractivo da ilha - taxa de IRC de apenas 10%, menos de metade da média europeia - que accionou o motor do crescimento desmesurado da banca.
Os baixos impostos, aliados a uma taxa de juros dos depósitos de 4%, o triplo do praticado na zona euro, tornaram Chipre num paraíso para os investidores.
Os depósitos bancários representavam 72% dos activos da banca e cerca de um terço destes pertenciam a estrangeiros, nomeadamente russos, britânicos e gregos.

 

Mas a falência de Chipre foi também resultado de uma estratégia que deu errado.
A grande maioria dos investimentos da banca cipriota foram feitos na Grécia, o seu maior parceiro e aliado na zona euro.
Recorde-se que Atenas, perante as dúvidas de Bruxelas em aceitar a ilha na UE em 2004, ameaçou vetar a entrada dos países do Leste europeu caso Nicósia não entrasse.

NÚMEROS
Economia
PIB cipriota representa 0,2% da economia da zona euro
População
Cerca de um milhão de habitantes, Nicósia tem 200 mil
Banca
Activos totalizam 126 mil milhões de euros, sete vezes o PIB nacional
Resgate
15,8 mil milhões de euros. 10 mil milhões via troika,

 


A elevada exposição à banca grega e a compra maciça de obrigações helénicas ditaram o inevitável resgate de Chipre.
Só os dois maiores bancos cipriotas perderam no ano passado 3,5 mil milhões de euros com as obrigações gregas, quase 10% do PIB.

Mas o caso cipriota marca também a confirmação de uma mudança de atitude da Comissão Europeia face aos resgates na zona euro.

 

Se o recurso aos depósitos bancários em Chipre é justificado como 'caso único' pela recusa de Bruxelas pagar o salvamento de instituições suspeitas de lavar dinheiro, a realidade é que no futuro novas intervenções vão significar perdas directas para investidores, credores e quem sabe depositantes.

A Comissão Europeia e sobretudo a Alemanha, defende que os contribuintes não têm de pagar os erros de gestão de bancos e os excessos dos investidores.
Aconteceu na Irlanda com o resgate da trolha, em Espanha com o resgate à banca e recentemente em Itália com o Estado a pagar a falência do Monte di Paschi.
Mas poderão ter sido os últimos.

 

A intervenção já este ano no banco holandês SNS, um dos maiores do país, foi feita com perdas para alguns investidores, o mesmo sucedeu na operação de troca de obrigações da Irlanda com o BCE, no perdão de