FICAR OU SAIR DO EURO, EIS A QUESTÃO DECISIVA

FICAR OU SAIR DO EURO, EIS A QUESTÃO DECISIVA

FICAR OU SAIR DO EURO, EIS A QUESTÃO DECISIVA 

Portugal tem futuro se se mantiver no euro?
É a esta questão que dois livros, acabados de editar, procuram dar resposta: "Euro forte, euro fraco — Duas culturas uma moeda: um convívio (im)possível?", de Vítor Bento, e "Porque devemos sair do euro", de João Ferreira do Amaral.

Vítor Bento mostra que o ajustamento em 83-85, assente numa forte desvalorização do escudo (33% em dois anos), resultou no abaixamento rápido e significativo dos custos unitários de trabalho (-14,6% em termos reais), num forte crescimento das exportações (40% no período), numa contração moderada da procura interna (7%), numa recessão pouco profunda (0,1% nos dois anos, com uma queda de 1% em 1984) e num aumento modesto do desemprego (mais 1,7%).

No ajustamento atual, os resultados são bem diferentes.

Os custos unitários de trabalho caíram 5,9% desde 2008, as exportações aumentaram 9% em quatro anos, a quebra da procura interna atingiu 14%, a recessão acumulada é de 6% e entrou no seu terceiro ano e o desemprego subiu mais 7%.

A rápida correção dos desequilíbrios externos foi assim conseguida à custa da redução da procura interna.
"Como dificilmente conseguirão o financimento necessário para sustentarem o crescimento baseado na procura interna, estes países correm o risco de ficarem presos num 'incompleto equilíbrio keynesiano', onde o equilíbrio externo é preservado mas com a economia a funcionar duradouramente muito abaixo do pleno emprego".

Desta 'armadilha keynesiana', Bento diz que estes países só se conseguirão libertar por uma de três vias:
1) um demorado processo de deflação relativa, com os salários e os preços do sector não transacionável, congelados ou a crescer abaixo dos valores nas restantes economias;
2) um programa de reformas estruturais que permitam aumentar a produtividade mais rapidamente que os concorrentes (embaratecendo os custos unitários de trabalho);
3) emigração, que 'exportando' a oferta 'excedentária' de trabalho, elimine gradualmente o desemprego.
"Será, em qualquer caso, um ajustamento demorado, a não ser que a ação 2 consiga acelerar os seus efeitos.
E, salvo o que desta resulte, é sempre um processo de empobrecimento", sublinha.

O debate sobre se conseguimos sair desta situação mantendo-nos no euro tornou-se incontornável — porque o atual processo conduz-nos a um inexorável declínio

 

João Ferreira do Amaral coincide na análise mas não na solução.
"Próximo do descalabro económico e social, Portugal enfrenta a possibilidade de entrar numa profunda depressão económica e, em consequência, sofrer um empobrecimento significativo por muitos e muitos anos".

Os programas de ajustamento propõem "reduções drásticas dos dois défices, o externo e o público. Mas como estes objetivos são conflituantes, não os atingem".
Por isso, diz que é prioritário para Portugal sair do euro.
Só essa saída controlada da moeda única, para a qual define cinco condições, nos permitirá uma reindustrialização e "recomeçar a crescer rapidamente com base na produção de bens transacionáyeis, gerando saldos positivos na balança de pagamentos" — até porque um país que tem apenas 13% do PIB originado na indústria e 2% no sector primário "não vai longe" nem recupera continuando no euro.

Uma coisa é certa: ao entrar no terceiro ano de recessão, com a estrutura produtiva devastada e o desemprego a chegar aos 20%, o debate sobre se conseguimos sair desta situação mantendo-nos no euro tornou-se incontornável — porque o atual processo de ajustamento condena-nos irremediavelmente a um doloroso empobrecimento e a um inexorável declínio.