COORDENAÇÃO POLÍTICA GOVERNO NÃO ESTÁ FECHADA

COORDENAÇÃO POLÍTICA GOVERNO NÃO ESTÁ FECHADA

COORDENAÇÃO POLÍTICA GOVERNO NÃO ESTÁ FECHADA
Helena Pereira
helena.pereira@sol.pt

 

O CDS não cala o desconforto com a remodelação. Relvas não passou a pasta a Poiares Maduro e o PSD contesta a abertura do Governo a críticos de Passos Coelho.

A substituição de Miguel Relvas por dois novos ministros não serenou os ânimos entre CDS e PSD.

 

A remodelação ficou aquém do desejado pelos centristas, a coordenação política ainda não está definida e a ausência de Paulo Portas na tomada de posse dos novos governantes alimenta receios de que a coligação vive um novo momento de tensão.
Por outro lado, o aparelho do PSD deu conta do seu desagrado com a escolha de algumas personalidades sem ligação ao partido.

Ao SOL, Diogo Feio considera que esta «não é a remodelação que o Governo necessitava» e que é preciso «uma coordenação politlco-económica».
O eurodeputado do CDS defende que o Executivo precisa de ter «visão estratégica» para «uma segunda fase da governação».

 

No fundo, os centristas - que não criticam o perfil dos dois novos ministros - esperam que essa fase ainda venha a existir e que Paulo Portas possa então ter um papel importante, nomeadamente como vice-primeiro-ministro.

Na verdade, na reunião do Conselho Nacional do CDS, no domingo, Pires de Lima defendeu «mais peso» da Economia, mas não pediu a substituição de Álvaro Santos Pereira. Para o CDS, o problema nem está em Álvaro, se houver um outro patamar superior de coordenação.

 

A coordenação política do Governo deverá ficar a cargo do novo ministro-adjunto, Miguel Polares Maduro - que esta sema-na esteve mais concentrado no PS (a carta e a reunião) do que na coordenação dentro do Governo.

Com Miguel Relvas fora do país - viajou depois de ter ido à tomada de posse dos seus sucessores -, coube a Feliciano Barreiras Duarte fazer a transição dos dossiês para Miguel Poiares Maduro.
O secretário de Estado de Relvas, que também cessou funções, esteve segunda-feira reunido com o novo ministro, a pedido expresso de Passos Coelho, de quem foi chefe de gabinete no PSD.
E vai continuar.

 

Outra ausência de peso registada nos últimos dias foi a de Paulo Portas, na tomada de posse.
Aos dirigentes do partido, Portas explicou no domingo que tinha tido uma razão fundamentada - que não partilhou.
Mas a verdade é que o próprio Passos terá ficado desagradado, pois nem sequer disfarçou o incómodo quando foi confrontado com isso pelos jornalistas, no final da cerimónia.

Numa semana turbulenta, a entrada para o Governo de pessoas sem peso partidário irritou o aparelho do PSD.
Esse mal-estar foi protagonizado pelo presidente da distrital de Lisboa, Miguel Pinto Luz, que no Conselho Nacional de sábado se referiu «a pessoas que só sabiam dizer mal do Governo e que agora estão do seu lado».
E ironizou com «a capacidade de mobilização» do PSD.

 

Miguel Poiares Maduro e Pedro Lomba, por exemplo, são dois académicos que têm expressado opiniões nem sempre coincidentes com as do Executivo.
António Leitão Amaro, que pode ser indicado para a secretaria de Estado da Administração Local, é visto como próximo de Paulo Rangel, embora não tenha declarado o seu apoio.
Já Pedro Rodrigues, chefe de gabinete de Poiares Maduro, foi apoiante de Rangel.

ASAE nas mãos do CDS
Nas alterações da orgânica do Governo, o CDS pode sair reforçado com a tutela da polémica ASAE, que estava com o ex-secretário de Estado adjunto da Economia, Almeida Henriques.
Em cima da mesa está a hipótese de passar para a secretaria de Estado do Turismo, de Adolfo Mesquita Nunes.
Será a terceira vez em poucos meses que este organismo muda de tutela.
Em Fevereiro, tinha saído da dependência do secretário de Estado da Inovação.

 


PASSOS PODE COPIAR EXEMPLO DE CAVACO
Marques Mendes defende a reedição de um Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos. E sugere mesmo Paulo Portas para o coordenar.
O Governo devia ter um Conselho de Ministros para os Assuntos Económicos, mais restrito e que reunisse periodicamente, para puxar pela agenda do crescimento.
A sugestão é de Marques Mendes, ex-líder do PSD e antigo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e depois ministro-adjunto de Cavaco Silva - que tornou obrigatórias estas reuniões durante os 10 anos em que foi primeiro-ministro.
Nos próximos dias, vai haver um Conselho de Ministros extraordinário, dedicado à Economia, segundo anunciou Passos, mas não se sabe se terá repetição.
Marques Mendes, que falou sobre este assunto no seu habitual espaço de comentário na S/C, no último sábado, explicou ao SOL que o actual Governo «teria toda a vantagem em criar uma estrutura desta natureza», pois seria «uma forma de dar peso e mais importância ao tema da economia». Mais: o líder do CDS, Paulo Portas, «poderia ser o coordenador» desse Conselho de Ministros.
Cavaco Silva instituiu nos seus governos um Conselho de Ministros mais restrito para Assuntos Económicos, que reunia quinzenalmente, às terças-feiras. Tinham assento os ministros das Finanças, da Indústria, do Comércio, das Obras Públicas e da Economia.
«Não tinha propriamente carácter decisório, mas preparava as grandes opções» -recorda ao SOL o ex-ministro da Indústria, Mira Amaral, que também considera que «faria sentido» reeditar-se esse modelo, pois faz falta «uma reflexão profunda para que os ministros discutam globalmente». Nas habituais reuniões de quinta-feira, «não há tempo, há outros assuntos a tratar».
Marques Mendes, que tinha assento nestas reuniões por ser secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, explica que aí eram discutidas matérias como a política dos portos, dos transportes ou da competitividade.
H.P.