
CHIPRE PERDE A ÂNCORA EM BRUXELAS E FICA À DERIVA

CHIPRE PERDE A ÂNCORA EM BRUXELAS E FICA À DERIVA
Bancos reabriram ontem, mas a economia cipriota continua com poucas perspetivas de recuperação
A abertura dos bancos em Chipre, depois de 14 dias fechados, processou-se com serenidade.
A segurança reforçada acabou por não ser necessária (pelo menos nas primeiras horas).
As filas à porta das várias sucursais dos dois bancos problemáticos são maiores do que o normal, mas, nos restantes bancos, o movimento não demonstra nem aumento nem pânico.
Pelo contrário, os testemunhos reunidos têm um tom comum: os cipriotas declaram estarem prontos a enfrentar as dificuldades e também estão decididos a provar que vão consegui-lo com trabalho e solidariedade.
Houve mesmo quem tivesse decidido passar das declarações à ação e mostrou às câmaras que ia abrir uma conta no Banco de Chipre e depositar €500 hoje mesmo.
Em paralelo, a população insiste na urgência de serem identificados os responsáveis pelos erros de gestão do banco Laiki e os políticos que não agiram a numa nova fase em que a retórica é mais pragmática.
Aguardam-se os desenvolvimentos do mercado para que se possa avaliar a dimensão dos problemas mais imediatos.
Os salários de março vão ser pagos em atraso?
Que percentagem de pequenas empresas vai fechar no fim do mês?
Cipriotas procuram concentrar energia na sobrevivência diária e nos cálculos financeiros para as próximas semanas
O país está fora do mapa dos investidores internacionais, o sector bancário perdeu confiança e os dirigentes políticos procuram trilhar, à pressa, um novo fumo para substituir o modelo económico que foi chumbado pelo Eurogrupo.
Os meios de comunicação social substituíram no espaço de co deixou de prevalecer.
A população virou-se para tecnocratas e empresários com conhecimentos técnicos e práticos.
A fase de investigação e apuramento de responsabilidades foi iniciada mas, por enquanto, a prioridade está em mostrar união política e nacional perante as exigências e 'ameaças' que chegam do exterior (Eurogrupo, FMI e BCE).
O objetívo é reduzir ao máximo a dimensão dos estragos na economia e na reputação da nação.
Até ao momento, os cipriotas procuraram concentrar a energia na sobrevivência diária e nos cálculos financeiros para as próximas semanas — como organizar as finanças da família e dos negócios e enviaria mesada para os filhos que estudam em universidades no estrangeiro, por exemplo.
Enfim, gerir a perda de acesso aos depósitos bancários.
Os estabelecimentos comerciais e as bombas de gasolina deixaram de aceitar cartões de crédito, principalmente dos combustível ainda não se esgotou e há reservas suficientes para os próximos dias.
Os 25 mil contentores no porto de Limassol que aguardam transferências bancárias, mui¬tas delas acima de €100 mil, poderão ser despachados?
Tudo vai depender da forma como os bancos irão funcionar a partir de agora.
A dimensão foi sempre vista como uma vantagem por todos em Chipre.
O orgulho de ser pequeno mas capaz de alcançar uma qualidade de vida invejada por muitos britânicos, alemães e russos deu sempre uma compensação aos cipriotas, conscientes de que nunca seriam levados a sério pelos seus parceiros europeus se não aderissem à moeda única.
Cientes de que nem tudo era 100% de acordo com a lei, havia a noção de que os "pequenos escapes" não eram fatais, nem para a economia nem para o desempenho das empresas.
A dimensão dos erros só era do conhecimento de al¬guns e agora aguarda-se a célebre lista de quem fez transferências para o exterior de milhões de euros desde janeiro até 15 de março.
A dimensão vai ser importante para se sentir a solidariedade perante as futuras dificuldades. Nos últimos meses houve vários eventos de caridade por parte das famílias mais abastadas da ilha, cujo objetívo era reunir produtos e contributos para a compra de alimentos de modo a fornecerem cantinas e supermercados de solidariedade.
Atualmente, já não são só as famílias de desempregados que se dirigem a estes supermercados, mas todos os que ficaram sem acesso ao seu dinheiro depositado.
SOLUÇÃO PARA CHIPRE
• Empréstimo da troika de €10 mil milhões, mas não poderá ser usada na reestruturação da banca cuja recapitalização será financiada por acionistas, detentores de títulos e depósitos acima de €100mil
• Memorando de entendimento (MoU) deverá estar concluído em abril e a primeira tranche poderá ser desembolsada em maio. Nesse MoU deverá constar a subida do IRC de 10% para 12,5% e do imposto sobre rendimentos de 20% para 25%, bem como o plano de privatizações
• O empréstimo da parte europeia, que se estima em €9 mil milhões, deverá ser realizado através do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM em inglês)
• A reestruturação da banca abrange apenas os dois principais bancos (Banco de Chipre e o Laiki), é visa reduzir, até 2018, o peso do sector financeiro na economia de 8 vezes o PIB para a média europeia de 3,5.
O resto da banca não é afetado
• O Laiki, o segundo maior banco do país, detido em 87% pelo Estado desde 2011,, é liquidado, sendo dividido num 'mau banco' (que recolhe os ativos tóxicos e depósitos acima de €100mil) e num 'bom banco', com os ativos não tóxicos e os depósitos até €100mil, que passam para o Banco de Chipre
• O Banco de Chipre será recapitalizado através de um hair cut sobre os depósitos acima de €100mil e de perdas á assumir pelos acionistas e credores de modo a garantir um rácio de capital de 9%
• Não foi ainda definido o valor do corte nos depósitos não garantidos.
O ministro das banca não é afetado
• O Laiki, o segundo maior banco do país, detido em 87% pelo Estado desde 2011,.é liquidado, sendo dividido num 'mau banco' (que recolhe os ativos tóxicos e depósitos acima de ClOOmil) e num 'bom banco', com os ativos não tóxicos e os depósitos até €100mil, que passam para o Banco de Chipre
• O Banco de Chipre será recapitalizado através de um hair cut sobre os depósitos acima de €100mil e de perdas ã assumir pelos acionistas e credores de modo a garantir um rácio de capital de 9%
• Não foi ainda definido o valor do corte nos depósitos não garantidos.
O ministro das Finanças num dia falou de. "30% ou menos" e no dia seguinte de "até 40%" no caso dos 19 mil depositantes no Banco de Chipre envolvendo €8 mil milhões.
No caso do defunto Laiki, as perdas podem chegar aos 80% de um montante de €3,2mil milhões.
O corte abrange depósitos de particulares e empresas.
Não está ainda decidido se poderá excluir contas correntes
• O Banco de Chipre assumirá a dívida do Laiki relativa à injeçãd de liquidez de emergência (conhecida pela sigla ELA) do banco central que monta a €9,1 mil milhões, mas o banco central assegura novas linhas de liquidez
• O Banco do Pi réu grego comprará as sucursais dos bancos cipriotas (nomeadamente do Banco de Chipre, do Laiki e do Banco Helénico) na Grécia, o que baixará o peso da banca de 8 para 6 vezes o PIB cipriota
• O Governo de Nicósia prosseguirá a renegociação dos juros e maturidades do empréstimo russo de €2,5 mil milhões
• Controlo de capitais foi estabelecido temporariamente sobre todo o sistema financeiro durante sete dias.
Segundo o Governo será de "curta duração" e "gradualmente aliviado".
O ministro das Finanças disse que haverá exceções, pelo que será aplicado banco a banco