
COMEÇAR DE NOVO
09-04-2013 00:07
Escrevo sem saber qual a decisão do Tribunal Constitucional sobre o Orçamento de Estado de 2013.
Tudo indica, no entanto, que o Governo sofrerá mais uma derrota política no confronto com o Tribunal.
A mais que provável declaração de inconstitucionalidade de algumas normas do Orçamento é muito mais do que um problema financeiro e orçamental.
Coloca em causa a legitimidade do Governo e cria graves problemas ao sistema político, tal como o conhecemos.
Primeiro problema: o país é governável, sobretudo em tempo de crise e sob tutela estrangeira, com esta Constituição?
Antes de ser eleito primeiro-ministro, Passos Coelho achava que não.
Tanto assim era que propôs um projeto de revisão constitucional, como, aliás, já o tinha feito Luís Filipe Meneses, durante a sua breve passagem pela liderança do PSD.
Vale a pena discutir este assunto.
A Constituição não é, não pode ser, uma "vaca sagrada".
Os partidos do chamado "arco da governação" têm o dever de dizer aos portugueses se esta Constituição responde, ou não, às necessidades atuais e reais do país.
O sistema, assenta numa rotatividade a que chamámos "centrão". Foi esse poder que conduziu à falência e que se mostra incapaz de nos tirar dela
Segundo problema: é possível criar, no atual sistema político, um consenso partidário e institucional em torno de um programa que ataque, de facto, os problemas estruturais?
A resposta a esta questão é chave para a (e-ventual) sobrevivência do sistema.
Este sistema assenta numa rotatividade a que chamámos "centrão", ou seja, um poder exercido pelos dois principais partidos que, alternadamente, dominam o aparelho de Estado.
Foi esse poder que nos conduziu à falência.
É esse poder que se tem mostrado incapaz de nos tirar dela.
A experiência de dois anos de governação de Passos Coelho mostra que o PSD não tinha, de facto, um programa de rutura com o modelo tradicional, apesar da retórica do seu líder.
O chamado liberalismo de Passos Coelho não passava de uma prova de vida política, sem substância.
Os poderes que têm dominado o país não foram, no essencial, beliscados.
A reforma do Estado, elemento fundador de qualquer alteração digna desse nome, foi adiada, sendo hoje uma bandeira esfarrapada de um exército sem tropas.
O programa da troika e a respetiva tutela exterior são o refúgio dessa realidade.
A decisão do Tribunal Constitucional, qualquer que seja o custo financeiro, impõe que se coloque a discussão no ponto zero, respondendo à questão: que país queremos ser e como lá chegamos?
É começar de novo a atacar velhos problemas.
A questão está em saber se o conseguimos fazer com "velhos" protagonistas de uma nova realidade.
Provavelmente não, e, esse sim, é o nosso grande problema.
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